Final de semana passado, graças ao novo brinquedinho de um sheik da real família do Dubai, o domingão da brasileirada foi divertido. Fomos em mais ou menos 30 pessoas (98.7% brasileiros) assistir ao Grande Prêmio de uma categoria que até então nunca ouvira falar, uma espécie de genérico da Fórmula 1 com carros muito semelhantes, pilotos não muito conhecidos e bilhões de petro-dólares investidos.
Trata-se da A1, petro-autorama criado no ano passado pelo sheik Maktoum Hasher Maktoum Al Maktoum, que já foi aprovada pela FIA e tem a pretensão de rivalizar com a Fórmula 1. Não estou entre os maiores apreciadores de carros e corridas, mas dois aspectos me chamaram a atenção nesta categoria:
1. Os carros correm com os chassis, motores e pneus dos mesmos fornecedores, o que aumenta o equilíbrio na competição.
2. As equipes são, na verdade, 23 franquias vendidas por Sua Majestade, o sheik. E cada uma delas representa um país. Ou seja, na A1 não tem Ferrari, McLaren ou Gurgel, mas Brasil, Itália, Austrália e assim por diante. Uma espécie de Copa do Mundo automobolística, com os carros correndo com a cores do país, pilotos e mecânicos de mesma nacionalidade, enfim... O Galvão Bueno não pode saber disso!
Bem, como o treino que definiria o grid de largada começaria às 11 da manhã, marcamos de sair às 9h30 de Bondi Junction, onde um ônibus estaria nos esperando.
Perceberam a encrenca? Domingo, 9h30 da matina, ônibus para sair com 3 dúzias de brasileiros... É óbvio que às 11 e pouco a barca ainda estava lá, parada, uma vez que ainda tinha gente chegando. Mas sabem como é, penca de brasileiros juntos, domingo chuvoso por aqui, sábado de Carnaval no Brasil, e assim, em poucos minutos, o pessoal da Capoeira Brasil, um grupo bastante conhecido por estas bandas, sacou um surdão, uma caixa, mais alguns instrumentos e fizeram um rápido “ensaio técnico” antes da partida. Era apenas o começo da aventura.
O autódromo de Eastern Creek fica longe pra caramba. Aqui, quando alguém fala que o lugar é longe, acreditem. Em condições normais, o tempo médio é de 50 minutos. Mas como estamos falando de domingo chuvoso, dúzias de brasileiros e um motorista figuraça que, além de ter tido seus 15 minutos de fama durante as Olimpíadas de Sydney ao aparecer chacoalhando a caixa torácica para bilhões de espectadores em todo o mundo, não sabia o caminho. E, claro, o pessoal do ônibus tão pouco, apesar de que todos borrifavam “esquerda”, “direita”, “entra aí” e “não é essa” com absoluta “popriedade”. Não sei como, mas debaixo de um pé d´água colossal, muito barro no pé e lama no tornozelo, chegamos no autódromo.
Samuel, nosso motorista
Logo que nos instalamos na arquibancada e o pessoal começou a fazer um sonzinho, as figuraças começaram a aparecer. Primeiro foi a versão
aussie da Vovó Mafalda, que logo caiu no samba.
Depois foi um Robert que fazia “evoluções” com um chapéu. Era o típico cara que se estivesse num estádio de futebol na Inglaterra, invadiria o campo pelado.
A festa foi esquentando e o pessoal chegando. Os torcedores indianos, que estavam em massa, nem se importaram de "sambar" ao lado dos vizinhos do Paquistão, inimigos na Caxemira, mas que na Austrália e no meio de um monte de brasileiros viram irmãos.
A sonzeira logo chamou a atenção do autódromo inteiro, incluindo os pilotos brasileiros que apareceram para agradecer o apoio. O pessoal dos camarotes também foram até as sacadas para ver e tirar umas chapas, fotógrafos e cinegrafistas vieram fazer umas imagens, enfim, só faltou o Mestre dos Magos aparecer (ops, ele apareceu!).
Virou Carnaval!
Faltando uns vinte minutos para o início da corrida, a batucada deu uma trégua e um inesperado congestionamento de Ferraris chamou a atenção na pista.
Obviamente, em poucos segundos várias modelos (e atrizes) perfilaram-se ao lado do grid, de frente para os carros. De dentro de cada um descia um piloto que, para se proteger da chuva, colava nas modelos (e atrizes).
É claro que o nosso glorioso Sérgio Jimenez, o piloto brasileiro, no melhor estilo “pricesão de Eastern Creek”, foi o primeiro a se arranjar por ali.
Ferraris de volta para o caminhão-cegonha do sheik, era hora de formar o grid de largada. Lá, entre pilotos, mecânicos, modelos (e atrizes), imprensa e meia-dúzia de vips e aspones, quem também apareceu quebrando todo o protocolo foi o nosso intrépido Samuel, o motorista, com a galera da Capoeira Brasil, que “abrasileiraram” o grid minutos antes da largada. (Definitivamente era domingo de Carnaval).
Quando o relógio apontou 3 em ponto, os carros saíram para a volta de apresentação e logo achamos que o Rubinho também estava na prova, mas foi apenas impressão.
Após a largada oficial, sem televisão, sem monitores e sem Reginaldo Leme (o irmão do Dinho) para comentar, ficou difícil acompanhar a corrida, mas, por sorte, alguém falou que o brasileiro estava em 4º, o boato se espalhou e, toda vez que se perguntava em qual lugar estava o brasileiro, a resposta era a mesma: 4º (mesmo quando estava em 3º, 5º, parado nos boxes ou em último).
E assim, sem muita escolha, nosso Sérgio Jimenez acabou a corrida em... 4º lugar, atrás do sulafricano Adrian Zaugg, do suíço Neel Jani e do britânico Robbie Kerr, 1º, 2º e 3º colocados, respectivamente. Após a festa do pódio e a comemoração pelo... 4º lugar, era hora de voltar pra realidade. Assim, em vez de Ferraris e carros do sheik, passamos ao lado de veículos mais condizentes com o nosso dia-a-dia tupiniquim...
...e voltamos para o bumbão, um velho de guerra que faz a linha daqui de Sydney e, quando fica velho e caindo aos pedaços, é alugado para brasileiros.
Mas quem tem Samuca no volante, meus amigos, “o verdadeiro sheik-man (ops, “shake-man”), chega em qualquer lugar. Mesmo que em 4º.
Dá-lhe, Samuel!!!